Desde 1973 publicando o pensamento crítico brasileiro

Editora Alfa Omega

Blog

Entrevista com Jacob Bazarian, autor de Crítica da concepção teológica do mundo

Alfa Omega: O senhor poderia nos dizer como nascem as superstições?
Jacob Bazarian: É evidente que essas crenças só nascem devido à ignorância das causas reais e naturais dos fenômenos.
O homem chamado primitivo, isto é, iletrado e inculto, sem espírito científico, por ignorar as causas reais e naturais dos fenômenos, atribuía as causas dos fenômenos a objetos que teriam um poder mágico dentro de si (fetiches) ou à vontade de entidades sobrenaturais (deuses, santos, etc.).
O homem em geral, tanto o primitivo como o civilizado, aprende por reflexo condicionado. Quando a um fenômeno F1 segue um fenômeno F2, ele tende a considerar o primeiro como causa e o segundo como efeito. Por exemplo: Ele passa debaixo de uma escada e caí um tijolo em sua cabeça. Conclusão: passar debaixo de escada é perigoso. Esse homem deixa de passar debaixo da escada, mesmo que não tenha ninguém trabalhando na escada. Outro exemplo: Ao andar pela rua, um gato preto cruza-lhe o caminho. Nesse dia ele teve azar nos negócios. Conclusão: Gato preto cruzando o caminho da gente dá azar e deve-se contorna-lo. Como se vê nesses exemplos, os fenômenos estão relacionados de modo fortuito, casual, isto é, não há nenhuma relação causal entre um fenômeno e outro. É uma questão de puro acaso, sorte ou azar.

(mais…)

Entrevista com Ernesto Araújo, autor de Quatro 3

Alfa Omega: Como você definiria o livro Quatro 3? Trata-se de um romance?
Ernesto Araújo: Não exatamente. É um conjunto de textos que exploram uma certa temática, mas sem intenção de sistematicidade. Não quis construir uma história, mas sim produzir um ambiente. Poderia comparar Quatro 3 a uma cidade que surgiu da união de um conjunto de vilarejos e cidades menores, sem planejamento urbano.

Alfa Omega: Qual é a temática que você aborda?
Ernesto Araújo: Antes de mais nada, aquilo que o escritor francês Philippe Muray chama a recusa de negatividade. A idéia de que um mundo de paz e cooperação é a maior das maravilhas. A perda da liberdade de pensar e agir que decorre da universalização de um certo tipo de democracia. Tento opor-me a tudo isso e afirmar um pouco a negação, defender a possibilidade de ser contra. Porque a humanidade nasce e cresce na contradição e no confronto: confronto com a natureza, confronto entre povos e classes, confronto entre espírito e matéria, confronto do homem consigo mesmo, desafio à realidade. Hoje somos cada vez menos capazes de vivenciar o confronto, e assim vamo-nos desumanizando.

(mais…)

Entrevista com João Carlos de Medeiros Ferraz, autor de O Manual da Crise

Entrevista concedida a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: O senhor poderia explicar o subtítulo do seu livro “Em linguagem financeira para não-financistas?
João Carlos de Medeiros Ferraz: A minha motivação para escrever esse livro se deveu em muito ao grande número de consultas que eu recebia de amigos e pessoas do meu relacionamento, pessoal ou profissional, destinadas ao esclarecimento de dúvidas que essas pessoas tinham a respeito da crise financeira e que, em outubro de 2008, ocupava todos os veículos da mídia. Essas pessoas buscavam explicações sobre o que de fato estava acontecendo, mas em uma linguagem menos técnica e mais simples, para que elas pudessem compreender melhor a situação geral do problema e tirar suas próprias conclusões. Desta forma, eu procurei abordar no livro as questões relacionadas à crise, mas utilizando uma linguagem o menos técnica possível, para descomplicar o tema, de forma que todos os leitores interessados pudessem compreender melhor um assunto que afeta a todos, principalmente os leigos em finanças.

(mais…)

Entrevista com Marco Antônio Ribeiro Tura, autor de Soberania Estatal e Classes Sociais.

Entrevista a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: O senhor poderia explicitar o conceito de soberania tratado no seu livro?
Marco Antônio Ribeiro Tura: A rigor não há um conceito propriamente dito no trabalho. Eu quis me afastar disto, pois todos têm-se ocupado precisamente de definir o que é a “soberania”. Queria, na verdade, dizer que a busca de um conceito (ideal) de soberania implicava a busca de suas noções (concretas) e tal empreendimento exige a compreensão de que o que conhecemos por “Estado soberano” é uma criação relativamente recente em termos histórico-sociais. De todo modo, soberania, em meu livro, há de ser entendida como a supremacia do poder estatal frente aos demais poderes sociais. O que importa aqui, no entanto, não é definir o que entendo por “soberania”, mas dizer que a supremacia estatal em que se traduz o poder soberano, é a tradução da supremacia social ostentada e sustentada pelas frações de classes e pelas classes em si que constituem e reconstituem esta organização política do poder social denominada “Estado”.

(mais…)

Entrevista com José de Barros Netto, autor de A vontade natural e o Pantanal da Nhecolândia

Alfa Omega: Considerando que o Pantanal da Nhecolândia ainda é desconhecido da grande maioria dos brasileiros quais são os seus limites geográficos?
José de Barros Netto: O Pantanal da Nhecolândia realmente ainda é desconhecido da grande maioria dos brasileiros. Com, aproximadamente, 600 léguas quadradas, em um formato que lembra um triângulo isósceles, com 150 e 300 Kms. de base e altura respectivamente, sua localização está no Mato Grosso do Sul.
Podemos localizá-la dentro destes limites geográficos: ao Norte com o rio Taquari; ao Sul com a vazante do Castelo, os rios Negro e Miranda, seguindo por este até a sua foz no rio Paraguai; ao Poente com os rios Paraguai e Taquari e ao Nascente com uma linha imaginária separativa dos municípios de Corumbá, Coxim e Rio Verde e traçada entre o Porto Independência no rio Taquari, passando pelo pico do “Morrinho” (único morro existente na região, sito nas terras da antiga fazenda Pimenteiral), indo até a vazante do Castelo, que figura, hoje, como sendo marco divisório entre os municípios de Corumbá e Aquidauana.

(mais…)

Entrevista com Júlio da Silva Moreira, autor de Direito Internacional: para uma crítica marxista

Entrevista concedida a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: Prof. Júlio, como explicar a aparente dicotomia entre o Direito Internacional como o paraíso da igualdade soberana dos povos, contido nas declarações e nos estatutos dos organismos internacionais e a absoluta inverdade dessa máxima, quando se depara com a crueldade que representa, na prática, o capitalismo?
Prof. Júlio da Silva Moreira: Esse paradoxo só pode ser compreendido com a análise histórica do Direito Internacional, a partir das relações concretas entre povos e Estados. E essa análise começa com a compreensão de que o direito, muito mais que um conjunto de normas, é uma necessidade para o mecanismo de acumulação capitalista. Esse método, lançado por Marx e desenvolvido por Pachukanis, revela que o direito é formado por paradoxos: enquanto prega a liberdade, a igualdade e a propriedade universal, realiza o seu oposto. O Direito Internacional, desde o início, é um mecanismo para regulamentar e legitimar a colonização. Para fazer isso, ele afirma a igualdade entre os Estados. As normas internacionais, por si sós, não deixam perceber isso. Como diz Michel Miaille, “temos o direito de exigir mais dessa ciência, ou melhor, de exigir coisa diversa de uma simples descrição de mecanismos”.

(mais…)

Entrevista com Argemiro Procópio, autor de No olho da águia

Alfa Omega: Serão os estudos em Relações Internacionais propagados no Brasil demasiadamente influenciados pela indústria cultural norte-americana? E como pode a disseminação de ideologias tomadas como inquestionáveis e aplicáveis universalmente ser usada como mecanismo de promoção mundial dos interesses norte-americanos?
Argemiro Procópio: Existe no Brasil uma certa parcialidade e tendenciosidade dos recentes estudos em relações internacionais, resultantes da propagação do poderio e áreas de influência norte-americana. O conteúdo de tais estudos costuma ser réplica ou cópia defasada do ensinado nas universidades dos Estados Unidos da América. Além do controle dos meios de produção, a posse e o domínio da indústria cultural são extraordinários instrumentos de poder do unilateralismo. Isso porque ademais da conquista por meio da guerra e das empresas transnacionais, a indústria cultural sabe cativar. Domina tanto no âmbito das idéias, quanto impõe sua visão de mundo ditando indiretamente o estilo de vida de dezenas e dezenas de países. Daí também as revoltas contra o tratar cultural dos EUA. Eles por onde passam colocam em xeque tradições e culturas que não as suas.

(mais…)

Entrevista com Marcos Alcyr Brito de Oliveira, autor de Cidadania Plena

AlfaOmega: Uma pergunta básica: como se define o conceito moderno de cidadania e do que se trata?
Marcos Alcyr Brito de Oliveira: O conceito atual de cidadania pode ser resumido como o direito a ter direitos. Direitos civis (como o direito à vida, à liberdade à igualdade, à propriedade etc.), direitos políticos (participar no destino da sociedade, votar e ser votado) e os direitos sociais (direito à educação, ao trabalho, à saúde etc.).
Todos estes direitos estão previstos em boa parte das constituições existentes no mundo, inclusive na Constituição Federal Brasileira de 1988. No entanto, não bastam estas garantias formais, é necessária muita luta e consciência para que estes direitos se tornem realidade, por isso podemos dizer que o conceito de cidadania ainda está sendo construído.

AlfaOmega: O que muda na idéia de cidadania a partir de Jean-Jacques Rousseau, Immanuel Kant e Friedrich Hegel?
Marcos Alcyr Brito de Oliveira: Para os antigos (gregos e romanos) não havia uma diferença nítida entre o público e o privado, a sociedade civil e a sociedade política.
Os fundamentos da teoria moderna do Estado, em que a sociedade civil difere da sociedade política, começam a ser elaborados de forma mais completa com Thomas Hobbes, seguido, entre outros, por John Locke, Jean-Jacques Rousseau, Emmanuel Kant e Georg Wilhem Friedrich Hegel.

(mais…)

Entrevista com Marcelo Maccaferri, autor de Alma, Gesto

Entrevista concedida a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: Estrear na literatura com um prêmio importante como o PAC que significado teve para você?
Marcelo Maccaferri: Sem dúvida é um reconhecimento. Mas principalmente me alerta o quanto não devo me iludir com a distinção. Porque o início não aconteceu com o prêmio e o fim eu deixo aos póstumos.

Alfa Omega: Qual é o grande tema do poeta e da poesia?
Marcelo Maccaferri: Depois do século XX não é mais possível falar de um tema específico na poesia. Mas se a vida, uma vez indicada, é Arte, eu diria então que a poesia fala das dúvidas e dos absurdos da existência.

Alfa Omega: Como e quando você se deparou com a necessidade de fazer poesia?
Marcelo Maccaferri: Não faço poesia, mas me utilizo das palavras como matéria-prima para Arte. Eliminemos de uma vez por todas as categorias e as classificações, que generalizam a matéria e encobre suas nuances e sua atualidade. No livro “Alma, Gesto” solicitei propositalmente ao editor a declaração “Palavras e Ilustrações do autor”.

(mais…)

Entrevista com Langstain Almeida, autor de Romance de Combate – A Dominação do Terceiro Mundo

A dominação do Terceiro Mundo mergulha na essência da natureza humana. Analisa os sentimentos, o caráter, os interesses e a ideologia por trás do domínio político no mundo contemporâneo. Trata-se de romance de ficção política, de cunho autobiográfico. O autor esteve condenado à morte quando da sua prisão, logo após o golpe militar de 1964, e novamente em 1971.

A reportagem da Alfa Omega publica a entrevista com o escritor Langstain Almeida, levada a efeito às vésperas do lançamento do Romance de combate, A dominação do Terceiro Mundo. Num ambiente de descontração no qual os interlocutores sentaram-se a uma mesa simples com lastro de mármore, o diálogo teve início após uma rodada om cafezinho quente.

Alfa Omega: Por que o sintagma de combate adjetivando o vocábulo romance?
Langstain Almeida: A Dominação é um romance de combate porque se vale do teatro para esclarecer consciências. Alcançado este difícil porte de elevação política, tal obra busca a derrocada do modelo econômico implantado no Terceiro Mundo a partir da Segunda Guerra Mundial.

Alfa Omega: Qual o ambiente geográfico que oferece matéria-prima literária ao relacionamento dos personagens?
Langstain Almeida: A América Latina, parte da África Subsaariana, o Golfo Pérsico e os territórios do Sul da Ásia – instruíra o autor, prolongando-se: O material literário converge de várias partes do Terceiro Mundo.

(mais…)
Far far away, behind the word mountains, far from the countries Vokalia and Consonantia there live the blind texts.