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Entrevista com Therezinha Arantes de Aguiar e Andrea Aguiar, autoras do livro Um Nome para meu cãozinho

Alfa Omega: Surgiu de repente a idéia de escrever? E por que para as crianças?

Therezinha Arantes de Aguiar: Não, a idéia de escrever me acompanha há algum tempo decorrente do ensinar a ler. Cremos que paralelamente à alfabetização devemos levar a criança a descobrir o verdadeiro prazer da leitura envolvendo-se emocionalmente com as aventuras e personagens que poderá encontrar nos textos lidos.

Alfa Omega: Em que ordem sua vivência como mãe, avó e educadora fornecem elementos para a criação literária?

Therezinha Arantes de Aguiar: As experiências de quem foi criança na época anterior à televisão é fator preponderante para valorização da literatura infantil. O livro era realmente o caminho direto para o mundo do “faz-de-conta”. Contar histórias é também parte imprescindível à vivência de toda mãe, avó e professora.

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Entrevista com Ernesto Araújo, autor de A Porta de Mogar

Alfa Omega: Qual é a temática que você aborda?
Ernesto Araújo: Antes de mais nada, aquilo que o escritor francês Philippe Muray chama a recusa de negatividade. A idéia de que um mundo de paz e cooperação é a maior das maravilhas. A perda da liberdade de pensar e agir que decorre da universalização de um certo tipo de democracia. Tento opor-me a tudo isso e afirmar um pouco a negação, defender a possibilidade de ser contra. Porque a humanidade nasce e cresce na contradição e no confronto: confronto com a natureza, confronto entre povos e classes, confronto entre espírito e matéria, confronto do homem consigo mesmo, desafio à realidade. Hoje somos cada vez menos capazes de vivenciar o confronto, e assim vamo-nos desumanizando.

Alfa Omega: Seu livro também fala muito de deus. Em que gênero se encaixa A porta de Mogar?
Ernesto Araújo: Creio que se pode considerá-lo um romance, de certa forma na linha do que os americanos e ingleses chamam de “fantasy”, com reis, castelos e nomes estranhos. Mas não se trata de um relato de aventuras, e sim do monólogo de um homem chamado Keniv. Keniv é uma espécie de filósofo que se transforma num mercenário a serviço de uma princesa deserdada mas que acaba protegendo a sacerdotisa de um culto decadente.

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Entrevista com Vinícius Magalhães Pinheiro, autor do livro Filosofia em Direito de Galvano Della Volpe

Entrevista concedida a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: O que o levou a estudar Galvano Della Volpe?

Vinícius Magalhães Pinheiro: Della Volpe é um autor crucial na história do pensamento crítico do tipo marxista. Lançando um olhar sobre o marxismo jurídico brasileiro – e a surpreendente formação de uma verdadeira Escola Marxista do Direito Brasileiro em torno do professor Alysson Mascaro, da Faculdade de Direito da USP e da Universidade Presbiteriana Mackenzie – percebi que Della Volpe, um grande teórico, não havia sido analisado nas perspectivas jurídicas. As polêmicas decorrentes de sua obra, por conta do seu anti-hegelianismo e do chamado “Debate italiano” pareceram-me campo fértil para pesquisa crítica do direito.

Alfa Omega: Quais são os desafios metodológicos que existem para se entender a leitura que Della Volpe empreendeu do pensamento de Hegel e Marx?

Vinícius Magalhães Pinheiro: São desafios enormes. Della Volpe promoveu leituras muito profundas de Hegel e Marx, subvertendo a forma tradicional de se pensar a relação entre os dois pensadores alemães. Resumidamente, os marxistas em geral atribuem as origens do pensamento marxiano a Hegel, por conta das críticas de Marx à filosofia hegeliana. Ainda, atribui-se a Feuerbach grande parte da formação das concepções teóricas de Marx, o que também é negado por Della Volpe. Para o filósofo italiano, Marx é legatário de Aristóteles e Galileu, e não de Hegel e Feuerbach. É uma tese metodológica muito peculiar.

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Entrevista com Aldo Arantes, autor do livro O FMI e a nova dependência brasileira

Alfa Omega: Qual a idéia central do livro O FMI e a nova dependência brasileira?

Aldo Arantes: A tese central do livro é a de que o processo de globalização da economia brasileira, através das privatizações, desnacionalização da economia, desemprego e reajuste fiscal levou ao desmonte do estado brasileiro. A questão teórica que levanto é se o neoliberalismo e a globalização colocam um fim ou não ao Estado nação e, o que procuro mostrar, é que longe de suprimirem o Estado nação, fortalecem os Estados capitalistas centrais, os Estados imperialistas – sobretudo os EUA, ao mesmo tempo em que debilitam os Estados dependentes.

Alfa Omega: Tem-se a impressão de que o neoliberalismo e a Globalização são uma “nova etapa” na evolução do capitalismo, um processo irreversível. Houve opções e mais, existem alternativas a esse modelo?

Aldo Arantes: Na verdade, esse é o discurso das elites dominantes, de que esse seria um caminho inevitável, inexorável. O presidente FHC chegou a dizer em uma entrevista que a globalização era um novo renascimento, querendo apresentar o processo de globalização como algo progressista e moderno. A globalização tem um duplo aspecto: o aspecto objetivo, que decorre do desenvolvimento do capitalismo, do desenvolvimento técnico-científico – que é um aspecto positivo da globalização. Mas também tem um aspecto de opção ideológica, de estratégia de desenvolvimento e essas são decisões conscientemente tomadas. A política neoliberal não é inevitável. É um caminho adotado pelo sistema capitalista numa situação de crise. E os países que não se submeteram à regra neoliberal, longe de estarem em crise, esses países é que estão conseguindo superar a crise, como é o caso da China, Índia e do próprio Japão. O que aconteceu com a Argentina? A Argentina seguiu à risca todas as regras impostas pelo FMI, e o México também. A maioria dos países que seguiu a política do FMI, praticamente dizimou a sua economia, enfraqueceu profundamente e ficou sem instrumentos de barganha.

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Entrevista com Maria Lúcia Resende Garcia, autora de Geração 60

Alfa Omega: No período da ditadura militar muitos grupos e pessoas se insurgiram contra a falta de liberdade. Uns através de ações armadas, outros dentro do esquema político permitido, o bipartidário, outros optaram pela ação política clandestina de arregimentação e organização populares. A história, a mídia, retrata os aspectos mais espetaculares: a luta armada, as ações aventureiras, a guerrilha. Como analisa essa questão?
Maria Lúcia Resende Garcia: Após termos vivenciado um período de grande participação política durante o governo João Goulart, com o golpe encontramos na ditadura militar a castração das liberdades, a falta do debate das questões sociais e políticas do Brasil.
Quanto a luta armada ser mais comentada na mídia nos dias atuais, acredito que isso se dá pela repercussão que teve na época, até mesmo divulgada pela ditadura visando isolar politicamente os patriotas que se insurgiram contra ela, como também a literatura disponível é mais ampla. A Ação Popular (partido em que militei), embora tenha evoluído para a proposta da luta armada tinha como meta, a médio e longo prazos, a “guerra popular” — mobilização, organização e participação das “massas” operário-camponesas. Não existia o enfoque da guerrilha ou ações armadas isoladas.

Alfa Omega: Como a senhora avalia a repercussão para os dias de hoje do trabalho político desenvolvido pelos seus companheiros e pela senhora?
Maria Lúcia Resende Garcia: A marca da luta estudantil, do movimento operário, a experiência vivida pela geração dos anos 60 foi fundamental para a retomada da democracia e das liberdades no Brasil. Os que sobreviveram, exilados ou na clandestinidade, com a anistia, boa parte esteve e está presente na reconstrução do país, seja na luta pelas “diretas já”, pela Assembléia Nacional Constituinte, na organização dos partidos políticos, nos parlamentos ou nos poderes executivos, tanto no plano nacional, estadual ou municipal.

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Entrevista com Ernesto Araújo, autor de Xarab Fica

Alfa Omega: Do mesmo modo que seu primeiro romance, A porta de Mogar, também este segundo passa-se em um país imaginário. Desta vez trata-se de Xarab. Pode falar um pouco sobre esse lugar?
Ernesto Araújo: Para mim é um pouco difícil falar de Xarab assim, de fora, porque só conheço Xarab de dentro. É como se me pedissem para falar do Brasil em poucas palavras: que poderia dizer sem cair no óbvio? Que é um país grande, verde, complexo? Tudo isso seria frio e sem vida. Só os países estrangeiros são realmente países: para cada pessoa, o seu próprio país não é um país, mas sim uma experiência, uma percepção íntima. Os outros países são por acaso, são relativos, enquanto o nosso é necessário e absoluto. O livro, aliás, é um pouco sobre isso, sobre essa especificidade da Pátria. Direi que Xarab é uma cidade irrequieta à beira de um golfo, a memória de uma guerra perdida, a consciência de ter algo a defender, algum segredo que o resto do mundo desconhece. Xarab é um povo que deseja transcender a verdade. Xarab é uma rainha cansada que sente aproximar-se o fim e escolhe uma sucessora, uma moça que tentará provar que é digna do reinado. Xarab é a dúvida sobre si mesmo unida à vontade de perseverar.

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Entrevista com Jade Gandra Martins, autora de Tempo de guerrilha

Entrevista concedida a Jaci Dutra

Alfa Omega: É um romance histórico com uma história de amor. Como você conseguiu casar os dois assuntos e não se perder em chavões?
Jade Gandra Martins: O livro narra a história de Charllote e Vinícius, durante o período conturbado pré-João Goulart e durante a ascensão e auge da ditadura militar. Transformam-se em guerrilheiros urbanos e lutam almejando um país melhor. Não quis criar um romance apenas relatando fatos históricos. Tinha de haver mais na caracterização das personagens, e haver um pano de fundo paralelo à política. Quis mostrar os conflitos, pois os guerrilheiros tinham também uma vida pessoal que ficaria para trás na hora de empunhar suas bandeiras, uma vida de casamento, filhos, passear na praia, mas o coletivo prevalece. E isso lhes custa sua história de amor.

Alfa Omega: Qual a base do livro, de onde surgem os outros assuntos?
Jade Gandra Martins: O pano de fundo é o seqüestro do embaixador americano no Brasil, táticas de guerrilha, comunidade hippie, drogas, liberação sexual.

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Entrevista com Paula Loureiro da Cruz , autora de Alexandra Kollontai – Feminismo e Socialismo

Entrevista concedida a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: Profa. Paula, para introduzirmos questões sobre a atuação da feminista Alexandra Kollontai, nos tempos da revolução russa, seria interessante que a senhora discorresse sobre como se encontra a situação da mulher no estágio atual.
Paula Loureiro da Cruz: Com a entrada da mulher no mercado de trabalho e as conquistas efetuadas na esfera legislativa, tais como igualdade de direitos assegurada pela Constituição, direito ao voto, licença-maternidade, licença para amamentação, entre outras, pode-se dizer que as mulheres conquistaram a sua emancipação. Todavia, não conseguiram atingir a tão sonhada libertação, pois remanescem diversos elementos que a mantém em situação de opressão na sociedade contemporânea.

Alfa Omega: Sabemos que a afirmação da mulher como um ser humano com os mesmos direitos dos homens é uma batalha que tem demandado esforços de pensadoras e pensadoras em diversas áreas de atuação. Alessandra Kollontai foi a primeira pensadora de peso a sistematizar essas reinvidicações? Ou a sua atuação foi fruto de uma evolução? Pode-se traçar um paralelo com outras atuações de peso acontecido antes dela?
Paula Loureiro da Cruz: Alexandra Kollontai destaca-se como uma das principais autoras pioneiras do feminismo marxista, ao lado de Rosa Luxemburgo e Clara Zétkin. Seu pensamento aprofunda as considerações efetuadas por Engels, na obra A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Sua notoriedade é vista com a inovadora análise marxista sobre a “moral sexual”.

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Entrevista com Boris Koval, autor de Heroísmo trágico do Século XX

Alfa Omega: Sr. Boris Koval, o senhor é conhecido no Brasil pelo seu livro História do Proletariado Brasileiro (1857-1967), publicado também pela Alfa-Omega. Agora, ao completar cinqüenta anos de sua atividade intelectual como “brasilianovsky” e como estudioso dos movimentos de libertação da América Latina e revoluções do século XX, o senhor nos apresenta seu “Heroísmo trágico do século XX – O destino de Luiz Carlos Prestes”.
Em determinado momento do livro, o senhor diz que está na moda hoje em dia criticar nossos pais e avós, reduzindo a importância de sua participação nos destinos do mundo. Como se sua luta não tivesse sentido. Em que medida a vida longa de 92 anos de Luiz Carlos Prestes, em seus 68 anos de luta revolucionária (dentro dos quais passou 15 no exílio, 9 na prisão e 17 na clandestinidade) pode resgatar nas novas gerações o amor ao Brasil, sua principal característica? Qual o seu exemplo? E por que razão o ex-tenentista, comunista e líder revolucionário brasileiro é visto como um herói?
Boris Koval: Eu acredito que se pode realmente definir Prestes como homem-herói de sua época, isto é, do século XX. O heroísmo é um fenômeno complexo e tem uma série de critérios:
a) Heroísmo como forma de conduta pessoal em condições extremas, isto é, coragem, espírito de sacrifício, desprezo pela morte;
b) Como perseguição fanática, rigorosa de uma idéia, ideal, objetivo, apesar do perigo para a própria vida;
c) Como feito heróico concreto, cumprimento do dever, bravura, fidelidade ao juramento, ato patriótico ou revolucionário;
d) Como expressão superior da energia espiritual e moral na luta pela causa comum,liberdade e justiça, felicidade do povo e da pátria, a defesa destes contra os inimigos e o mal;
e) homem-herói é um exemplo de força de vontade, valentia, amor ao próximo;
f) heróis são pessoas honradas, de mentalidade livre, fraternidade; os melhores deles são muito carismáticos, capazes de desempenhar papel de líder, ideólogo; não são anjos, mas pessoas normais, que se diferenciam das outras por missão especial e energia espiritual, capazes de assumir as principais responsabilidades. Cada época tem seus heróis. Lembremos os heróis da República dos Palmares (século XVII), a Conspiração dos Inconfidentes (1789), as revoltas republicanas populares do século XIX (guerra dos Farrapos, Cabanada, Sabinada, Balaiada e outras), o movimento dos camponeses em Canudos (fim do século XIX e outros), a luta contra a escravidão e pela república. Os nomes das maiores personalidades entraram na história do Brasil para sempre. O século XX trouxe à vida novos heróis – João Cândido, que encabeçou a revolta dos marinheiros em 1910, Astrogildo Pereira, Octávio Brandão e outros líderes do movimento operário, os tenentistas Antônio Siqueira Campos, os irmãos Joaquim e Juarez Távora e Hercolino Cascardo.

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Entrevista com André Araújo, autor de A Escola do Rio

AlfaOmega: Seu livro A Escola do Rio – Fundamentos políticos da nova economia brasileira trata de economia ou de política?
André Araújo: Trata de economia política, ciência um pouco enfraquecida nos nossos debates econômicos, hoje muito voltados para o economics, ou seja, práticas de operação da economia. A economia política se ocupa da gênese dos processos econômicos, e nesse sentido recorre mais à história e à vida social do que à teoria econômica.

AlfaOmega: Nessa visão, exposta no seu livro, o Plano Real foi uma operação essencialmente técnica ou uma manobra política?
André Araújo: Foi a aplicação na realidade brasileira de uma subideologia, gestada nos anos 40 e 50, que via o Brasil como país subordinado a um sistema maior, construído a partir do fim da Segunda Guerra, percepção que por sua vez está enraizada no liberalismo clássico da Escola inglesa. Por essa concepção, o Brasil não deveria procurar ser uma potência industrial porque sua vocação seria essencialmente agrícola e mineral. Essa posição não é nova, governou o Brasil desde o descobrimento até a Revolução de 30. Foi Vargas quem implantou uma outra visão de país, criando as bases da indústria e do nacionalismo econômico que construíram o Brasil moderno. Sem essa mudança de rumos, o PIB brasileiro seria hoje muito menor e nosso país seria uma grande Guatemala, vivendo da lavoura e da exportação de alguns minérios.

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Far far away, behind the word mountains, far from the countries Vokalia and Consonantia there live the blind texts.