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Alfa Omega indica: Centenário de Florestan Fernandes na PUC-SP

Florestan Fernandes em conferência no Museu de Belas Artes (1964). Domínio público / Acervo Arquivo Nacional

De 16 a 18/09/2020 será realizado um ciclo de conversas online em homenagem aos 100 anos do nascimento do sociólogo Florestan Fernandes, organizada pela PUC-SP.

É um bom momento para reavivar o pensamento deste grande pensador da realidade brasileira, que teve atuação fundamental no avanço das ciências humanas e da sociologia no Brasil sem descolar a vida acadêmica de uma ação política, tornando-se um dos grandes intelectuais brasileiros. Notável que tenha sido, por isso, dado nome a espaços tão diferentes, mas importantes, como a biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e a Escola Nacional de Formação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), em Guararema/SP.

Seu compromisso com a transformação social ficou registrado em uma frase célebre, proferida em uma entrevista, na qual foi peremptório: “para o sociólogo não existe neutralidade possível: o intelectual deve optar para o compromisso com os exploradores ou com os oprimidos”. Florestan optou pelos oprimidos.

A educação pública foi um de seus temas de militância. No que tange à universidade pública, tema do segundo dia da homenagem, publicou, em 1975, pela Alfa Omega, a obra Universidade Brasileira: reforma ou revolução. Como reconhece no prefácio “[…] o livro deveria sair por uma editora famosa em 1969. Obviamente que a publicação foi impraticável e ele só saiu em 1975, ainda assim em um ato de ousadia da editora Alfa Omega”. Naqueles tempos de chumbo eram poucos os que tinham coragem de publicar textos politicamente engajados.

A Alfa Omega, criada durante a ditadura, regime que combateu com afinco, também publicou Em Câmara Lenta, romance sobre a guerrilha urbana, e A Sangue Quente, sobre o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, entre outros títulos. Florestan, que compartilhava de boa relação com a editora, prefaciou outra novidade por ela editado: a primeira edição brasileira dos Sete ensaios de interpretação da realidade peruana, de Mariategui, obra importante para pensar o socialismo na América Latina, que completava 40 anos, ainda sem tradução no Brasil. No prefácio anotou:

“[…] é uma obra lúcida e notável , que já granjeou, desde que foi publicada, suficiente reconhecimento de valor para ser incluída entre os principais clássicos do pensamento latino-americano. Quanto à sua significação para as correntes socialistas, já foi estabelecido de que ela é ‘a mais importante obra marxista latino-americana´[…]”.

O livro Universidade Brasileira: reforma ou revolução marcou a produção de Florestan Fernandes na educação e sobre a universidade, como mostram os artigos de Demerval Saviani, Roberto Leher, José Luis Sanfelice, entre outros.

O calendário e a programação do evento podem ser consultados no Jornal da PUC


Entrevista com Carlos Roriz Silva, autor de Tempo de Lutas: contribuição à história da Ação Popular.

Entrevista concedida a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: Sr. Roriz, para começar uma pergunta de cunho mais filosófico:  o senhor relata os efeitos danosos das torturas sofridas nas prisões durante a ditadura. Na sua opinião, por que um homem é capaz de torturar outro homem?
Carlos Roriz Silva: O homem leva em si a sede do poder. Esta sede de domínio esteve sempre presente em relação à natureza, para seu sustento, com alimentação, moradia, vestimentas, armas, adornos. Depois evoluiu com a formação da sociedade, se desenvolvendo ou avançando drasticamente com a sociedade de classes, com o avanço da ideologia.
A tortura faz parte dos mal tratos que um indivíduo inflige noutro, tais com xingar ou bater para obter um comportamento ou uma confissão, mas também serve como demonstração de poder, mesmo sem necessidade de algum comportamento ou confissão. Só o ser humano carrega sentimentos como ódio e amor, compaixão ou desprezo, mas todos sentimentos variam de grau com a sede de poder que carrega. E o poder econômico, a necessidade de desigualdade baseia este poder. Até que o homem perceba que quanto mais formos iguais nesta questão, mais seremos ricos e viveremos melhor, com menos conflitos.

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Entrevista com Silvio Luiz de Almeida, autor de Direito no Jovem Lukacs

Alfa Omega: Professor Silvio, por que estudar o Lukács de História e consciência de classe hoje?
Silvio Luiz de Almeida: Porque estudar História e consciência de classe é simplesmente estudar uma das maiores obras da era contemporânea. História e consciência de classe contém em suas páginas conceitos-chave para o desvendamento das relações que constituem a nossa sociedade, e que são encobertas pelas névoas da ideologia dominante.
O livro de Lukács deixou marcas indeléveis na filosofia e nas ciências sociais. Basta lembrarmos que História e consciência de classe é considerada a obra fundamental do “marxismo ocidental” e, portanto, a obra que influenciou todos os pensadores da chamada “Escola de Frankfurt”, dentre os quais cito Adorno, Horkheimer, Benjamin, assim como outros filósofos contemporâneos de grande importância como Agnes Heller, István Mészáros e Lucien Goldmann. Mesmo no Brasil, a influência de História e consciência de classe se faz presente nas relevantes contribuições de Michael Löwy, Leandro Konder, Carlos Nelson Coutinho, José Paulo Netto, Wolfgang Leo Maar, Alfredo Bosi e Marcos Nobre.

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Entrevista com Roberto Robaina, autor de Marx e o núcleo racional da dialética de Hegel

Entrevista concedida a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: Defina, em linhas gerais, os pressupostos do livro Marx e o núcleo racional da dialética de Hegel.

Roberto Robaina: O livro trata da relação entre Hegel e Marx. Trabalha cada autor e sua ligação, centrando no tema da contradição. Busco desenvolver como Marx utilizou sua leitura da Lógica de Hegel em sua elaboração de O Capital. Neste sentido estabeleço o paralelo entre as categorias do ser e da mercadoria, mostrando o desenvolvimento destas categorias através do movimento de suas contradições internas. Mostro finalmente que a crise capitalista já pode ser visualizada na própria categoria da mercadoria.

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Entrevista com Jacob Bazarian, autor de Crítica da concepção teológica do mundo

Alfa Omega: O senhor poderia nos dizer como nascem as superstições?
Jacob Bazarian: É evidente que essas crenças só nascem devido à ignorância das causas reais e naturais dos fenômenos.
O homem chamado primitivo, isto é, iletrado e inculto, sem espírito científico, por ignorar as causas reais e naturais dos fenômenos, atribuía as causas dos fenômenos a objetos que teriam um poder mágico dentro de si (fetiches) ou à vontade de entidades sobrenaturais (deuses, santos, etc.).
O homem em geral, tanto o primitivo como o civilizado, aprende por reflexo condicionado. Quando a um fenômeno F1 segue um fenômeno F2, ele tende a considerar o primeiro como causa e o segundo como efeito. Por exemplo: Ele passa debaixo de uma escada e caí um tijolo em sua cabeça. Conclusão: passar debaixo de escada é perigoso. Esse homem deixa de passar debaixo da escada, mesmo que não tenha ninguém trabalhando na escada. Outro exemplo: Ao andar pela rua, um gato preto cruza-lhe o caminho. Nesse dia ele teve azar nos negócios. Conclusão: Gato preto cruzando o caminho da gente dá azar e deve-se contorna-lo. Como se vê nesses exemplos, os fenômenos estão relacionados de modo fortuito, casual, isto é, não há nenhuma relação causal entre um fenômeno e outro. É uma questão de puro acaso, sorte ou azar.

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Entrevista com Ernesto Araújo, autor de Quatro 3

Alfa Omega: Como você definiria o livro Quatro 3? Trata-se de um romance?
Ernesto Araújo: Não exatamente. É um conjunto de textos que exploram uma certa temática, mas sem intenção de sistematicidade. Não quis construir uma história, mas sim produzir um ambiente. Poderia comparar Quatro 3 a uma cidade que surgiu da união de um conjunto de vilarejos e cidades menores, sem planejamento urbano.

Alfa Omega: Qual é a temática que você aborda?
Ernesto Araújo: Antes de mais nada, aquilo que o escritor francês Philippe Muray chama a recusa de negatividade. A idéia de que um mundo de paz e cooperação é a maior das maravilhas. A perda da liberdade de pensar e agir que decorre da universalização de um certo tipo de democracia. Tento opor-me a tudo isso e afirmar um pouco a negação, defender a possibilidade de ser contra. Porque a humanidade nasce e cresce na contradição e no confronto: confronto com a natureza, confronto entre povos e classes, confronto entre espírito e matéria, confronto do homem consigo mesmo, desafio à realidade. Hoje somos cada vez menos capazes de vivenciar o confronto, e assim vamo-nos desumanizando.

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Entrevista com João Carlos de Medeiros Ferraz, autor de O Manual da Crise

Entrevista concedida a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: O senhor poderia explicar o subtítulo do seu livro “Em linguagem financeira para não-financistas?
João Carlos de Medeiros Ferraz: A minha motivação para escrever esse livro se deveu em muito ao grande número de consultas que eu recebia de amigos e pessoas do meu relacionamento, pessoal ou profissional, destinadas ao esclarecimento de dúvidas que essas pessoas tinham a respeito da crise financeira e que, em outubro de 2008, ocupava todos os veículos da mídia. Essas pessoas buscavam explicações sobre o que de fato estava acontecendo, mas em uma linguagem menos técnica e mais simples, para que elas pudessem compreender melhor a situação geral do problema e tirar suas próprias conclusões. Desta forma, eu procurei abordar no livro as questões relacionadas à crise, mas utilizando uma linguagem o menos técnica possível, para descomplicar o tema, de forma que todos os leitores interessados pudessem compreender melhor um assunto que afeta a todos, principalmente os leigos em finanças.

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Entrevista com Marco Antônio Ribeiro Tura, autor de Soberania Estatal e Classes Sociais.

Entrevista a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: O senhor poderia explicitar o conceito de soberania tratado no seu livro?
Marco Antônio Ribeiro Tura: A rigor não há um conceito propriamente dito no trabalho. Eu quis me afastar disto, pois todos têm-se ocupado precisamente de definir o que é a “soberania”. Queria, na verdade, dizer que a busca de um conceito (ideal) de soberania implicava a busca de suas noções (concretas) e tal empreendimento exige a compreensão de que o que conhecemos por “Estado soberano” é uma criação relativamente recente em termos histórico-sociais. De todo modo, soberania, em meu livro, há de ser entendida como a supremacia do poder estatal frente aos demais poderes sociais. O que importa aqui, no entanto, não é definir o que entendo por “soberania”, mas dizer que a supremacia estatal em que se traduz o poder soberano, é a tradução da supremacia social ostentada e sustentada pelas frações de classes e pelas classes em si que constituem e reconstituem esta organização política do poder social denominada “Estado”.

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Entrevista com José de Barros Netto, autor de A vontade natural e o Pantanal da Nhecolândia

Alfa Omega: Considerando que o Pantanal da Nhecolândia ainda é desconhecido da grande maioria dos brasileiros quais são os seus limites geográficos?
José de Barros Netto: O Pantanal da Nhecolândia realmente ainda é desconhecido da grande maioria dos brasileiros. Com, aproximadamente, 600 léguas quadradas, em um formato que lembra um triângulo isósceles, com 150 e 300 Kms. de base e altura respectivamente, sua localização está no Mato Grosso do Sul.
Podemos localizá-la dentro destes limites geográficos: ao Norte com o rio Taquari; ao Sul com a vazante do Castelo, os rios Negro e Miranda, seguindo por este até a sua foz no rio Paraguai; ao Poente com os rios Paraguai e Taquari e ao Nascente com uma linha imaginária separativa dos municípios de Corumbá, Coxim e Rio Verde e traçada entre o Porto Independência no rio Taquari, passando pelo pico do “Morrinho” (único morro existente na região, sito nas terras da antiga fazenda Pimenteiral), indo até a vazante do Castelo, que figura, hoje, como sendo marco divisório entre os municípios de Corumbá e Aquidauana.

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Entrevista com Júlio da Silva Moreira, autor de Direito Internacional: para uma crítica marxista

Entrevista concedida a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: Prof. Júlio, como explicar a aparente dicotomia entre o Direito Internacional como o paraíso da igualdade soberana dos povos, contido nas declarações e nos estatutos dos organismos internacionais e a absoluta inverdade dessa máxima, quando se depara com a crueldade que representa, na prática, o capitalismo?
Prof. Júlio da Silva Moreira: Esse paradoxo só pode ser compreendido com a análise histórica do Direito Internacional, a partir das relações concretas entre povos e Estados. E essa análise começa com a compreensão de que o direito, muito mais que um conjunto de normas, é uma necessidade para o mecanismo de acumulação capitalista. Esse método, lançado por Marx e desenvolvido por Pachukanis, revela que o direito é formado por paradoxos: enquanto prega a liberdade, a igualdade e a propriedade universal, realiza o seu oposto. O Direito Internacional, desde o início, é um mecanismo para regulamentar e legitimar a colonização. Para fazer isso, ele afirma a igualdade entre os Estados. As normas internacionais, por si sós, não deixam perceber isso. Como diz Michel Miaille, “temos o direito de exigir mais dessa ciência, ou melhor, de exigir coisa diversa de uma simples descrição de mecanismos”.

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Far far away, behind the word mountains, far from the countries Vokalia and Consonantia there live the blind texts.