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Entrevista com Nilson Araújo de Souza, autor de A Longa Agonia da Dependência.

Alfa Omega: Prof. Nilson, a quem se destina este seu livro, qual seu público-alvo?
Nilson Araújo de Souza: Em primeiro lugar, a professores e alunos da disciplina Economia Brasileira Contemporânea dos cursos de ciências humanas, tais como Economia, Administração, Ciências Sociais, Ciências Políticas, Comunicação, Antropologia, Relações Internacionais, dentre outros; segundo, aos formadores de opinião; terceiro, aos que têm a responsabilidade de tomar decisões sobre os rumos da economia, ou a capacidade de interferir nessas decisões; por último, mas não menos importante, aos que, nas trincheiras das lutas sociais ou políticas, lutam por um Brasil melhor.

Alfa Omega: E os que querem manter o status-quo?
Nilson Araújo de Souza: Certamente, eles vão ter interesse em ler este livro porque, seguramente, estão interessados em descobrir as causas da longa agonia da dependência, ou seja, querem saber por que não deu certo o “modelo” que tanto os beneficiou durante tanto tempo.

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Entrevista com Ivan Godoy, autor de Polônia.

Entrevista a Antônio do Amaral Rocha

Alfa Omega: Caro autor, o senhor já escreveu sobre a Alemanha, Argélia, União Soviética e Bulgária, entre outros, sempre traçando um perfil detalhado dos países e agora escolheu a Polônia. Por que a Polônia?
Ivan Godoy: É um país fascinante, que deu ao mundo figuras como Chopin e Rubinstein, na música; vários ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura, cineastas como Wajda, Polanski e Kieslowski, cientistas como Copérnico e Madame Curie, líderes políticos e sindicais como Lech Walesa e um dos papas mais marcantes de todos os tempos: João Paulo II. Além disso, tem uma história milenar de luta pela independência e pela conservação de sua identidade nacional. Lá ocorreram fatos decisivos, que influenciaram a evolução de toda a Europa, como a a batalha de Grunwald, em 1410, em que foram derrotados os Cavaleiros Teutônicos. De lá partiram as tropas de Napoleão para a invasão da Rússia, que marcou o começo do fim do imperador francês. E lá foi iniciada a Segunda Guerra Mundial, em 1939, quando as forças nazistas invadiram o território polonês. Mas principalmente foi na Polônia que surgiu o Sindicato Solidariedade, que deu a largada para o processo de mudanças que pôs fim ao bloco socialista – e portanto à divisão da Europa em dois sistemas antagônicos – e teve como maior símbolo a queda do Muro de Berlim.

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Entrevista com Ivan Godoy, autor do livro Argélia – 50 anos de independência.

Alfa Omega: Por que você decidiu escrever um novo livro sobre a Argélia?
Ivan Godoy: Tive dois motivos principais: o fato de o país comemorar em 2012 o cinquentenário da independência e o interesse dos leitores pelo Oriente Médio e o Norte da África com a eclosão da chamada Primavera Árabe. O primeiro ponto se justifica porque é uma data redonda, marcante para qualquer nação. E mais ainda para um país onde o processo de descolonização se deu de uma forma violenta e heroica. A Guerra da Argélia foi uma das grandes epopeias do século XX, quando um milhão e meio de argelinos morreram para conquistar a independência, após 132 anos de domínio colonial francês. Assim, era preciso falar sobre o que aconteceu nestas cinco décadas, qual o caminho que os argelinos trilharam, o que mudou em todo esse tempo. Tudo isso reforçado pela importância de um país que é o maior da África – desde que o Sudão se dividiu em duas nações – e tem uma potente economia baseada no gás e no petróleo, nessa ordem. Quanto à Primavera Árabe, embora tenha gerado muito interesse e muitas esperanças, seus resultados a longo prazo ainda são incertos, pois tem se caracterizado pela emergência de setores fundamentalistas islâmicos e pela instabilidade política. Era preciso explicar porque o efeito dominó, com a derrubada de sucessivos governos, não afetou a Argélia.

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Entrevista com Marcelo Gomes Franco Grillo, autor de O Direito na filosofia de Slavoj Zizek

Entrevista concedida a Thiago Calheiros

Alfa Omega: Seu livro inscreve-se no âmbito da Filosofia do Direito, especificamente no círculo de juristas que tem o jusfilósofo Alysson Mascaro como grande referência. Você poderia descrever que papel tem cumprido as teorizações deste grupo?
Marcelo Gomes Franco Grillo: Gostaria de dizer, em primeiro lugar, que o Prof. Alysson Leandro Mascaro vem assumindo um papel importantíssimo no pensamento jurídico crítico brasileiro, com raras exceções, como poucos na história jurídica e jusfilosófica do País. Isso salta mais aos olhos, se considerarmos os professores da faculdade de Direito da USP, onde tradicionalmente, a linha de pensamento é tradicional e conservadora. Mascaro, além de ter se
estabelecido com esse rigor crítico na faculdade de direito da USP, mais surpreendentemente, ainda, criou um grupo de alunos críticos na Universidade Presbiteriana Mackenzie, a qual, por longos anos, apesar de sua excepcionalidade na graduação, não teve nenhuma tradição na pesquisa científica, e, atualmente, assume, sem medo de errar, um dos postos de berço do pensamento jurídico crítico brasileiro.
A teorização do grupo de alunos que se formou em torno do Prof. Alysson Mascaro, na pesquisa de Mestrado de Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie, tem sua base teórica mais aguçada no marxismo jurídico. Mascaro e seu grupo desenvolve um trabalho inédito no Brasil e quiçá no mundo: sintetizam as teorias jurídicas dos grandes pensadores marxistas ou de extenso diálogo com o marxismo, como é o caso exemplar das pesquisas em Bernard Edelman, Georg Lukács, Wilhelm Reich, Umberto Cerroni, Galvano Della Volpe, Nicos Poulantzas, Theodor Adorno, Celso Furtado e o próprio Slavoj Žižek.
Mas não só no marxismo jurídico concentra-se o grupo. Em geral, a posição crítica do direito, perpassa autores como Foucault, Carl Schmitt e Heidegger. Os estudos, em torno do professor Mascaro, são, não só marxistas, porém, considerados de uma forma ampla, antiliberais e antipositivistas. Daí, também, trabalhos que priorizam temas tais quais: o direito e a questão racial, a perspectiva material da democracia e da cidadania, o movimento feminista, os direitos humanos e o direito criminal.

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Entrevista com Guilherme Nafalski, autor de UNASUL: uma perspectiva de integração política sul-americana

Entrevista concedida a Antônio do Amaral Rocha

Alfa-Omega – Poderia explicar por que a assinatura do Tratado Constitutivo da União de Nações Sul-Americanas, a Unasul, define-se como um momento novo, uma possiblidade da realização da política em uma esfera em que sua aparição costuma ser bastante rara?
Guilherme Nascimento Nafalski: A Unasul é um instrumento novo, não apenas porque é recente, surgiu a pouco tempo. A Unasul é uma organização que muda a forma, o formato, da integração. Ela é possível porque um discurso que antes não tinha voz, passa a ter, disputando o próprio conceito de integração, propondo não um conjunto de trâmites comerciais e econômicos, mas a constituição de uma de uma identidade sul-americana.
Ao surgir depois de gerida em partidos de oposição, que não tinham espaço nos governos e nos processos de integração, em contraposição a um movimento neoliberal, o discurso se fortaleceu antes de se tornar oficial. Quando há o esgarçamento do processo de integração pela via neoliberal, apresentado pela proposição da Área de Livre Comércio da Américas, a Alca, este discurso toma força e conquista espaço, ganhando governos e, juntas, em diferentes países, apresenta uma nova possibilidade de construção. Um acontecimento político.

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Entrevista com Camilo Onoda Caldas, autor de Perspectivas para o direito e a cidadania

Alfa Omega: Professor, situe Umberto Cerroni no contexto da filosofia marxista?
Camilo Onoda Caldas: Penso ser necessária cautela para situarmos um autor dentro de uma corrente filosófica, temos como exemplo a polêmica entre Heidegger e o existencialismo ou Foucault e o estruturalismo. Mesmo assim, é uma tarefa da qual não devemos nos furtar, pois o dimensionamento de um filósofo somente se dá a partir da sua contextualização e da sua relação com os demais. No caso de Cerroni, dediquei-me a uma análise minuciosa de suas obras para situá-lo no universo marxista, que aliás é muito diversificado. Evidentemente, Cerroni tem suas particularidades, mas pode ser incluído entre os pensadores do chamado “marxismo ocidental”, mais particularmente do marxismo italiano de caráter humanista e democrático que inclui pensadores como Lucio Colleti, Galvano Della Volpe e Gramsci. Isso significa que Cerroni acredita que a grande lacuna teórica do marxismo é a ausência de uma ciência política própria. É esse vazio que ele se propõe a preencher, pois entende que assim seria constituída a base necessária para pensarmos um socialismo democrático, um tema, aliás, que estava na ordem do dia diante da repercussão decorrente do famoso relatório secreto de Kruschev de 1956, que iniciou o movimento de crítica ao stalinismo e provocou uma revisão das idéias e das práticas marxistas de até então. Por essa razão observamos que Cerroni enfatiza nas suas obras as questões ligadas à participação política: o papel dos partidos políticos, o sentido da democracia, os limites da cidadania e da liberdade no capitalismo etc.

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Entrevista com Nathaniel Braia, autor de O Apartheid de Israel

Alfa Omega: O que o levou, aos 18 anos, apenas, a decidir-se a morar em Israel, e por quantos anos lá ficou?
Nathaniel Braia: Como informa o meu livro, O apartheid de Israel, no capítulo Sobre o autor, desde os oito anos de idade, participei de movimentos sionistas e estudei em escola judaica. Desde cedo me interessei muito pelo verdadeiro significado do judaísmo e do sionismo. Meus pais sempre haviam atuado em instituições judaicas e a comunidade judaica compunha meu principal círculo de relacionamentos até os dezoito anos. Logo após a Guerra dos Seis Dias o interesse pelo Estado de Israel e as contradições com os povos árabes cresceram na mente de muitos jovens judeus, assim como eu, no mundo inteiro. Fui a Israel conhecer e estudar tudo isso in loco.

Alfa Omega: Qual foi o fator decisivo que o fez começar a compreender o que realmente acontecia entre o povo palestino e o Estado de Israel?
Nathaniel Braia: Para mim foi um choque descer em Haifa e a partir daí percorrer Israel e ver o clima de racismo, segregação e desrespeito aos árabes palestinos no dia-a-dia daquele país. Como brasileiro havia tido uma vida acostumada à convivência entre brasileiros de diversas origens e, apesar de conviver com resquícios do racismo que existe no Brasil, nada se comparava à agressividade degenerada que eu passei a assistir e a repudiar em Israel, dos judeus contaminados pelo ódio, instilado pela mídia e pelos dirigentes locais, contra os árabes em geral e os palestinos em particular. Detalhe: no período em que vivi em Israel, tanto a mídia escrita, como falada e pela TV, nunca aparecia o nome palestino. Esse povo oprimido e despossuído era então tratado pelos israelenses apenas como “os terroristas”. Foi então que comecei a questionar todo o sistema engendrado a partir do movimento sionista e a sua conseqüência mais grave, a ocupação dos territórios palestinos.

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Entrevista com Mario de Oliveira Filho, autor de Brasil: O entulho oculto dos privilégios oligárquicos

Alfa Omega: Em seu livro, o senhor elege como tema central a questão dos privilégios oligárquicos. Poderia explicar os seus conceitos de elites, oligarquias, classes dominantes?
Mario de Oliveira Filho: É conhecido e indiscutível o fato de que todos os modernos países evoluíram de sociedades de muitos privilégios – monarquias, feudalismo, ditaduras – para sociedades com poucos ou nenhum privilégio, baseadas na meritocracia e na igualdade de todos perante às leis, casos da Inglaterra, Estados Unidos, França, Alemanha, Japão e outros. Infelizmente isso ainda não ocorreu no Brasil, onde temos uma sociedade com muitos privilégios, que é a principal razão do baixo crescimento.
A República e a democracia exigem, para sua implantação e manutenção, a aplicação literal e diuturna do princípio da igualdade e do estado de direito. O privilégio em si é negação dos conceitos de República e de Democracia. De forma resumida pode-se dizer que as elites são as classes dominantes que se veem como parte do País e que entendem a importância de priorizar os interesses nacionais, acima de qualquer outro interesse. Já as oligarquias são as classes dominantes que não tem qualquer sentimento de nacionalidade, no sentido de pertencer a um País, e colocam seus interesses acima e antes de qualquer outro.

Alfa Omega: As elites ocupam posições estratégicas nos processos decisórios e detém o poder de fato. E por serem elites desfrutam do melhor que o País dispõe. Qual é o papel, de fato dessas elites?
Mario de Oliveira Filho: O papel de uma verdadeira elite é o da criação e geração de riquezas materiais e intelectuais que contribuam para o desenvolvimento econômico e social do País. E neste processo priorizarem o interesse público e o bem comum acima de qualquer outra consideração.

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Entrevista com Everaldo Augusto, autor de Literatura e documento

Alfa Omega: A obra Cascalho procura retratar, com base em fatos históricos e documentais, a realidade do que ocorreu na cidade baiana de Andaraí, na primeira metade do século XX. Como o senhor avalia essa preocupação com a verdade histórica diante da difusão dos mitos de fora?
Everaldo Augusto: Eu diria que Herberto Sales, em Cascalho, não retratou apenas uma realidade. Em se tratando de uma obra de ficção, eu poderia dizer que ele recriou esta realidade.
O que surpreende a todos que lêem a obra é a força, as cores, e a emoção em que se dá este ato de recriação. Isto faz desta obra literária uma denúncia da degradação social e da banalização da vida daquela multidão de garimpeiros perdida nos sertões da Bahia, com muito mais força que qualquer obra dita histórica, tão somente, ou qualquer discurso diretamente engajado.

Alfa Omega: Em que medida o retrato fiel de uma realidade histórica colabora com a produção de uma obra literária? E em que ela atrapalha?
Everaldo Augusto: Penso que em literatura de ficção não há um retrato fiel da realidade. Eu diria que a Literatura rapta, captura a realidade e a recria pela palavra. Depois a devolve com mais vida ainda que a realidade antes capturada, posto que agora ela está desnaturalizada, perceptível ao olhar e aos sentimentos do homem.

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Entrevista com Aldo Rebelo sobre o livro A Ilusão Americana, de Eduardo Prado (1860-1901)

Alfa Omega: Por que um livro publicado pela primeira vez em 1893 ainda guarda alguma atualidade?
Aldo Rebelo: O livro trata da ilusão na possibilidade de serem resolvidos os graves problemas nacionais a partir do apoio e da ajuda dos EUA, ilusão desgraçadamente repetida cem anos depois pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1993, quando apresentou o chamado Plano Real, imaginando retomar o desenvolvimento do país apoiado no dinheiro volátil e na boa vontade do nosso grande vizinho do Norte.

Alfa Omega: Qual a importância do relançamento de A ilusão americana?
Aldo Rebelo: Os Estados Unidos propõe a formação de uma área de livre comércio nas Américas do Alasca à Terra do Fogo. O exame de tal proposta exige a cautela e a precaução na aproximação com vizinhos poderosos e arrogantes. A obra de Eduardo Prado é paradoxal: ao mesmo tempo em que teve a premonição de denunciar a expansão hegemonista dos EUA, se contrapôs ao movimento renovador da Proclamação da República. Não podemos esquecer que Eduardo Prado era um aristocrata; um homem para quem os valores de uma sociedade nobliárquica, deveria se basear na etiqueta, na linhagem, nos títulos de nobreza. Eduardo Prado era filho de uma das famílias mais ricas de São Paulo. Tinha casa montada em Paris, era ligado aos círculos intelectuais de Lisboa e tinha servido, inclusive, na legação brasileira em Londres. Esse era o seu ambiente, esse era o seu meio. E a República era a negação de tudo isso. A República veio da Guerra do Paraguai, do convívio de soldados negros com oficiais republicanos e anti-escravocratas, como Floriano Peixoto. O anti-republicanismo de Eduardo Prado determinou que para ele o Brasil republicano era um país no qual não se sentia mais à vontade. A República de Floriano era exatamente a negação de tudo aquilo que Eduardo Prado imaginava para o País: era o combate do aristocrata, combate que ele fazia muito mais pela glória de combater do que pela esperança de vencer, porque sabia que a vitória era improvável.

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Far far away, behind the word mountains, far from the countries Vokalia and Consonantia there live the blind texts.