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Entrevista com Ivan Godoy, autor do livro Argélia – 50 anos de independência.

Alfa Omega: Por que você decidiu escrever um novo livro sobre a Argélia?
Ivan Godoy: Tive dois motivos principais: o fato de o país comemorar em 2012 o cinquentenário da independência e o interesse dos leitores pelo Oriente Médio e o Norte da África com a eclosão da chamada Primavera Árabe. O primeiro ponto se justifica porque é uma data redonda, marcante para qualquer nação. E mais ainda para um país onde o processo de descolonização se deu de uma forma violenta e heroica. A Guerra da Argélia foi uma das grandes epopeias do século XX, quando um milhão e meio de argelinos morreram para conquistar a independência, após 132 anos de domínio colonial francês. Assim, era preciso falar sobre o que aconteceu nestas cinco décadas, qual o caminho que os argelinos trilharam, o que mudou em todo esse tempo. Tudo isso reforçado pela importância de um país que é o maior da África – desde que o Sudão se dividiu em duas nações – e tem uma potente economia baseada no gás e no petróleo, nessa ordem. Quanto à Primavera Árabe, embora tenha gerado muito interesse e muitas esperanças, seus resultados a longo prazo ainda são incertos, pois tem se caracterizado pela emergência de setores fundamentalistas islâmicos e pela instabilidade política. Era preciso explicar porque o efeito dominó, com a derrubada de sucessivos governos, não afetou a Argélia.

Alfa Omega: Por que você decidiu escrever um novo livro sobre a Argélia?
Ivan Godoy: Tive dois motivos principais: o fato de o país comemorar em 2012 o cinquentenário da independência e o interesse dos leitores pelo Oriente Médio e o Norte da África com a eclosão da chamada Primavera Árabe. O primeiro ponto se justifica porque é uma data redonda, marcante para qualquer nação. E mais ainda para um país onde o processo de descolonização se deu de uma forma violenta e heroica. A Guerra da Argélia foi uma das grandes epopeias do século XX, quando um milhão e meio de argelinos morreram para conquistar a independência, após 132 anos de domínio colonial francês. Assim, era preciso falar sobre o que aconteceu nestas cinco décadas, qual o caminho que os argelinos trilharam, o que mudou em todo esse tempo. Tudo isso reforçado pela importância de um país que é o maior da África – desde que o Sudão se dividiu em duas nações – e tem uma potente economia baseada no gás e no petróleo, nessa ordem. Quanto à Primavera Árabe, embora tenha gerado muito interesse e muitas esperanças, seus resultados a longo prazo ainda são incertos, pois tem se caracterizado pela emergência de setores fundamentalistas islâmicos e pela instabilidade política. Era preciso explicar porque o efeito dominó, com a derrubada de sucessivos governos, não afetou a Argélia.

Alfa Omega: E por que a Primavera Árabe não afetou a Argélia?
Ivan Godoy: Acontece que a Argélia já tinha iniciado suas reformas políticas e econômicas no final dos anos 80, com o fim do partido único, ou seja, a adoção do multipartidarismo, e a adoção paulatina de uma economia de mercado, ressaltando que as principais riquezas nacionais, o gás e o petróleo, continuaram nas mãos da estatal Sonatrach, não existindo planos de privatizá-la. Mas o período de guerra civil nos anos 90, quando os terroristas islâmicos provocaram uma verdadeira tragédia no país, com a morte de pelo menos 150 mil pessoas, retardou o processo de mudanças democráticas, retomado no final daquela década e acelerado sob o governo do presidente Abdelaziz Bouteflika. Ou seja, o país implantou o multipartidarismo vinte anos antes da Primavera Árabe.
Das eleições e dos poderes legislativo e executivo participam diversos partidos políticos, de diferentes tendências, inclusive islâmicos. Tem até um Partido dos Trabalhadores, que já apresentou uma mulher como candidata à presidência. Aliás, elas ocupam mais de 30% das cadeiras da Câmara dos Deputados e têm uma situação bem melhor do que na maioria dos países islâmicos. Novos avanços democráticos estão previstos, como o surgimento de canais privados de TV, o que garantirá maior pluralismo, pois hoje todos são estatais. A Constituição deverá sofrer mudanças no sentido da ampliação das liberdades. A imprensa escrita já é plural há muito tempo, com diversos jornais de oposição. E existe um forte movimento sindical. Ou seja, muita coisa conquistada noutros países com a Primavera Árabe já existe há tempos na Argélia.

Alfa Omega: Então o país está totalmente tranquilo?
Ivan Godoy: Não se pode dizer isso. Há numerosos movimentos sociais, principalmente em nível local, com as pessoas exigindo melhorias das prefeituras e fazendo manifestações, que incluem o bloqueio de rodovias. Também há greves por motivos salariais, principalmente de setores do funcionalismo público. Além disso, mesmo com a implantação da economia de mercado e o fim do partido único, a população ainda espera muito do Estado, que vê como provedor. Mas nas conversas com políticos e cidadãos comuns, os que falam em mudanças querem que elas sejam realizadas dentro do quadro institucional vigente e não através de revoluções sangrentas, inclusive por temerem a implantação de um regime islâmico radical. Todos conhecem bem o que pode acontecer numa situação desse tipo, pela experiência da guerra civil. No entanto, é preocupante a existência no Norte da África de muito armamento em poder de grupos terroristas, como a Al Qaeda no Maghreb Islâmico (AQMI), em consequência do conflito ocorrido na Líbia.

Alfa Omega: O que diferencia este livro do publicado oito anos atrás, Argélia – Tradição e Modernidade?
Ivan Godoy: Queria falar primeiro do que é semelhante: o estilo. Continua sendo uma obra não acadêmica, o que não quer dizer que as informações não sejam confiáveis, porque são o produto tanto das cinco viagens que já realizei ao país quanto de uma exaustiva pesquisa. É uma mistura de reportagem com ensaio, numa linguagem acessível, para que o público brasileiro entenda melhor a mentalidade, a cultura e a sociedade da Argélia, sua riquíssima história – que inclui a presença de cartagineses, romanos, vândalos, bizantinos, turcos otomanos e dos colonialistas franceses -, e a luta dos argelinos por manter suas raízes culturais árabes e berberes, sem desprezar as outras influências. Só para que avaliem a importância desse patrimônio milenar, no território argelino existem os vestígios de centenas de cidades romanas, pois o país pertenceu durante quase cinco séculos ao Império, tendo sido o berço de personalidades como Apuleio, que escreveu o primeiro romance do mundo e Santo Agostinho, figura básica do cristianismo e da filosofia ocidental. Também devo dizer que aproveitei partes importantes do primeiro livro, principalmente nas questões históricas, nessa nova obra.

Alfa Omega: E em que diferem as duas obras?
Ivan Godoy: Dei uma ênfase maior à informação específica sobre as principais cidades e regiões, inclusive as que se encontram no deserto do Saara. Ou seja, o livro tem utilidade para o turista ou para o viajante que, indo para a Argélia por motivo de negócios ou familiares, queira conhecer melhor o país. Também introduzi um capítulo específico sobre a culinária argelina e o grande consumo de pão – o país é o campeão mundial nesse quesito. Igualmente há capítulos dedicados à ecologia e aos principais parques nacionais, e também aos spas, com banhos termais que, em sua maioria, já eram utilizados na época dos romanos. Tem até um spa onde o visitante pode se banhar numa piscina usada na antiguidade, rodeada de colunatas autênticas, como se estivesse no tempo do imperador Adriano. O novo livro é bem maior do que o anterior e está totalmente atualizado, com as repercussões dos últimos acontecimentos no mundo árabe.

Alfa Omega: Qual é, em sua opinião, o público-alvo do seu livro?
Ivan Godoy: Em primeiro lugar, pessoas que querem ter uma visão isenta e sem preconceitos de um país árabe moderno. Quem gosta de história e especialmente quer conhecer a importância da Revolução Argelina no século XX e seu apoio à descolonização do continente africano também terá muito a ganhar com o livro. Igualmente quem desejar conhecer costumes exóticos e saber mais o que é o Islamismo encontrará informações de utilidade. Também é o único livro editado no Brasil com informações turísticas sobre o maior país da África. Ou seja, o público é amplo, pois Argélia – 50 anos de independência é uma obra bastante diversificada. Assim, tive o cuidado de colocar meu e-mail a disposição dos leitores para esclarecer eventuais dúvidas e recomendar outros livros e sites que lhes permitam aprofundar mais nos temas de seu particular interesse.


Ivan Godoy é autor, pela Alfa Omega, de:

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Far far away, behind the word mountains, far from the countries Vokalia and Consonantia there live the blind texts.