Alfa Omega: O que o levou, aos 18 anos, apenas, a decidir-se a morar em Israel, e por quantos anos lá ficou?
Nathaniel Braia: Como informa o meu livro, O apartheid de Israel, no capítulo Sobre o autor, desde os oito anos de idade, participei de movimentos sionistas e estudei em escola judaica. Desde cedo me interessei muito pelo verdadeiro significado do judaísmo e do sionismo. Meus pais sempre haviam atuado em instituições judaicas e a comunidade judaica compunha meu principal círculo de relacionamentos até os dezoito anos. Logo após a Guerra dos Seis Dias o interesse pelo Estado de Israel e as contradições com os povos árabes cresceram na mente de muitos jovens judeus, assim como eu, no mundo inteiro. Fui a Israel conhecer e estudar tudo isso in loco.
Alfa Omega: Qual foi o fator decisivo que o fez começar a compreender o que realmente acontecia entre o povo palestino e o Estado de Israel?
Nathaniel Braia: Para mim foi um choque descer em Haifa e a partir daí percorrer Israel e ver o clima de racismo, segregação e desrespeito aos árabes palestinos no dia-a-dia daquele país. Como brasileiro havia tido uma vida acostumada à convivência entre brasileiros de diversas origens e, apesar de conviver com resquícios do racismo que existe no Brasil, nada se comparava à agressividade degenerada que eu passei a assistir e a repudiar em Israel, dos judeus contaminados pelo ódio, instilado pela mídia e pelos dirigentes locais, contra os árabes em geral e os palestinos em particular. Detalhe: no período em que vivi em Israel, tanto a mídia escrita, como falada e pela TV, nunca aparecia o nome palestino. Esse povo oprimido e despossuído era então tratado pelos israelenses apenas como “os terroristas”. Foi então que comecei a questionar todo o sistema engendrado a partir do movimento sionista e a sua conseqüência mais grave, a ocupação dos territórios palestinos.
Alfa Omega: Há uma informação, em seu livro, de que mesmo sendo também um judeu, passou por momentos de total incompreensão diante de outros integrantes das comunidades judaicas – tanto em Israel quanto aqui, no Brasil – devido à análise que fez sobre a luta entre os palestinos e Israel. Poderia citar quais?
Nathaniel Braia: Desde o momento em que a questionar o apartheid de Israel me vi em confronto com, a infelizmente, arraigada mentalidade racial e colonialista que ainda esta disseminada nas comunidades judaicas. Um dos momentos mais impressionantes que vivi, neste sentido, foi aquele que ocorreu no ano de 1972, quando fizemos uma manifestação em frente ao parlamento israelense, o Knesset, contra a ocupação dos territórios palestinos. Os judeus integrantes do movimento Kach dirigidos pelo fascista Meir Kahane (acusado de ligações com a máfia nova-iorquina), vieram com o intuito de agredir os manifestantes. Esses elementos eram principalmente judeus norte-americanos treinados lá, nos EUA, em artes marciais, com a finalidade de depois irem a Israel para agredir os opositores do regime de ocupação e segregação racial. Nós tivemos que barrar esse vandalismo contra uma manifestação pacífica e justa, com nossas próprias mãos pois a polícia israelense ficou inerte e omissa, assistindo à agressão passivamente. Acho interessante que o leitor saiba que o Kach é um grupo que encarna a degeneração ideológica do sionismo e da sociedade israelense. Foram eles que estimularam o clima que levou ao assassinato de Itzhaq Rabin, em Tel Aviv, através de cartazes virulentos contra ele, então primeiro-ministro de Israel. Rabin foi oúnico dos dirigentes israelenses a promover verdadeiramente a paz com os palestinos, tendo sido o mais coerente e progressista dos dirigentes
Alfa Omega: Em sua opinião, por que não existem, no Brasil (e talvez em muitos outros países) informações precisas (e de alcance popular) sobre o sionismo e suas origens e que ele verdadeiramente significa, não só em relação ao povo palestino, mas, também, e principalmente, em relação próprios judeus?
Nathaniel Braia: A desinformação foi sempre a arma dos colonialistas usada para ocultar seus crimes e agressões contra outros povos. O sionismo não fugiu à regra: usou o espaço do lobby judeu nos EUA e a submissão de Israel aos interesses da casta dominante e imperial norte-americana, para impingir suas mentiras e distorções através da mídia dominante nos EUA e na maioria dos países periféricos que, defende os interesses e propaga as idéias favoráveis aos seus donos, integrantes do sistema imperialista norte-americano, ou que, como é o caso da mídia predominante no Brasil, lhes bajula e é subserviente. Acredito que, neste sentido o livro, O Apartheid de Israel, vem preencher uma lacuna e é de profundo interesse para os brasileiros em geral e aos da comunidade árabe, vítimas da difamação perpetrada pelos sionistas e aos da comunidade judaica que precisam saber a verdade sobre os crimes cometidos por Israel e conhecer as forças que realmente almejam e conquistaram a paz.
Alfa Omega: Em seu modo de ver, judeus nascidos em nosso país estão absolutamente conscientes das verdadeiras razões – o colonialismo sionista, em primeiro plano, como você destaca em seu livro – que provocam o conflito e a guerra entre Israel e os palestinos e em muitos momentos entre Israel e todo o mundo árabe?
Nathaniel Braia: Como vimos acima, a mídia produz uma cortina de fumaça para ocultar os fatos aos brasileiros. Só com a Intifada, o levante palestino nos territórios ocupados, a imprensa foi obrigada a divulgar, ainda que minimamente, a agressão do nazismo israelense que já dura 34 anos, se contarmos apenas a ocupação ocorrida após 4 de junho de 1967. Os fatos estão vindo à tona e, cada vez mais, acredito que o nível de consciência dos judeus nascidos no Brasil, principalmente os mais jovens, se elevará, descolando os setores mais lúcidos dentro da comunidade judaica brasileira da postura racista dos dirigentes que atualmente ocupam o centro do poder em Israel.
Alfa Omega: É possível se saber quais são os mais numerosos – os judeus sionistas ou os não sionistas?
Nathaniel Braia: A tradição das comunidades judaicas nos anos que antecederam a Segunda Guerra, era de posições majoritariamente progressistas e contra o racismo, do qual os próprios judeus eram vítimas constantes. No entanto, o nazismo, com sua sanha antijudaica, provocou um retrocesso na mentalidade das comunidades judaicas no mundo. Isso as levou a se refugiar nas turvas idéias do sionismo anti-árabe e a projetar a agressão que sofreram, desta vez contra os palestinos. Este quadro ainda permanece, mas exemplos como o de Rabin e dos dirigentes israelenses tais como Uri Avnery e Iossi Beilin, deixam claro que existem profundas reservas morais dentro das comunidades judaicas que a farão superar o atoleiro racista no qual estão submersas e a voltarem a cumprir um papel de apoio à integração e convivência fraterna com os árabes e com os povos do mundo.
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