Maria Lúcia Resende Garcia é mineira de Oliveira, uma cidade “política”. Cidade das mais antigas e típicas de Minas Gerais, onde, aos valores do catolicismo tradicionalista se soma a cultura política centenária, paternalista e clientelista. Neste ambiente onde vicejam metas de poder pelo poder e suas benesses, também desabrocham os sonhos juvenis, críticos, de justiça e liberdade. Maria Lúcia não fugiu a regra dos jovens de seu tempo. Já nos primeiros anos do “ginásio” suas preocupações sociais se faziam presentes. Participativa na sua geração, no teatro amador, nos eventos estudantis, na “evangelização do meio”, buscando ser o “sal da terra”.
Em 1966, chega à capital mineira, na busca de formação superior, enfrentando com alegria as dificuldades da falta de recursos financeiros e pequeno apoio dos pais motivado pela preocupação em ver a “caçulinha” deixar o ninho para crescer.
O Brasil vivia os primeiros momentos da reorganização popular pelo retorno à democracia, suprimida pelo golpe de 64. No envolvimento com a política estudantil, Maria Lúcia percorreu um curto caminho. Inicialmente a JUC e depois a AP, organização política socialista cristã nascida na manjedoura da Santa Madre Igreja e logo enjeitada pela genitora. E lançada à clandestinidade pela ferocidade da ditadura.
Maria Lúcia, em 1968, era presidente do diretório acadêmico da sua faculdade — o curso era de Serviço Social — e professora primária. Casou-se no início de 1968 e logo engravidou, aumentando as dificuldades cotidianas. Mas nada disto a fez perder o trem da História. Continuava firme nos seus propósitos de devolver ao Brasil a liberdade e a justiça.
Veio o Congresso da UNE em Ibiúna e sua conseqüente prisão. Forçada a abandonar a faculdade e Belo Horizonte, foi inicialmente para a Cidade Industrial de Contagem e posteriormente para São Paulo, com filho no colo, por exigência do trabalho político da AP. No período de 1969 a 1972, trabalhou “na produção” em várias fábricas e, com o isolamento político imposto pela ditadura via censura, prisões e torturas, se deslocou para áreas de pesquisa de mercado onde as condições de trabalho eram mais seguras. Com a impossibilidade de continuar o trabalho político em São Paulo, foi para Niterói, o que lhe permitiu terminar o curso superior.
Em 1979, com a anistia, mudou-se para São Lourenço-MG, reiniciando o trabalho político em novas bases: funda as primeiras associações de moradores de bairro. Em 1983, criou o Conselho Municipal de Desenvolvimento Social e, em seguida, a Fundação Casa dos Meninos. Participou do Conselho de Meio Ambiente. E permaneceu na atividade política nos anos seguintes. Funda a Associação das Assistentes Sociais do Circuito das Águas. Como funcionária pública federal da FUNABEM — posteriormente CBIA — ajuda a implantar os CMDCAs — Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente — em muitas das cidades do sul de Minas. Com a extinção daquele órgão é removida para o INSS.
Eleita vereadora à Câmara Municipal de São Lourenço em 1997, desempenhou importante papel legislativo, dentre eles, a luta contra a privatização do serviço de águas e esgotos do município, luta contra a ação predatória da multinacional Nestlé sobre as águas minerais, principal elemento econômico da estância turística, além da criação e modernização de muitos dos institutos legais do município.
Publicações do autor pela Alfa Omega
-
Geração 60: Geração EsperançaR$45,00